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Descrição
Pornomatopéias
Barata Cichetto
Gênero: Crônicas Poéticas
Ano: 2024
Edição: 5ª
Editora: BarataVerso
Páginas: 222
Tamanho: 20× 20 × 1,50 cm
Peso: 0,500
Sussurros do Desejo: Uma Sinfonia Visual de Som e Sensualidade
Quando um livro intitulado Pornomatopéias aparece em nossas mãos, sentimos a promessa de algo único. Por mais estranho que seja o nome, ele parece nos convocar a explorar um terreno onde palavras e sons se encontram e entrelaçam, onde sentidos escapam ao comum. Barata Cichetto, seu autor, nos coloca diante de um jogo. E como em todo bom jogo, ele estabelece as regras desde o começo, mas com a liberdade que só os criadores verdadeiros se permitem: a de mudar, a qualquer momento, o que achamos que sabemos.
A palavra “Pornomatopéias” surge como uma criação, uma ousadia linguística que o próprio autor inventou, ampliando os limites da língua para expressar algo novo. Aparentemente impossível de definir, essa palavra reúne duas esferas à primeira vista díspares: “porno”, trazendo o peso da pornografia e o impacto do desejo explícito, e “onomatopeia”, a capacidade de se fazer ouvir e sentir o som. Aqui, os gemidos, suspiros e exclamações do prazer, tanto sexual quanto literário, ganham o centro da narrativa. Pornomatopéias são os sons, os murmúrios, as exclamações que a escrita erótica evoca, que nos coloca, como leitores, não apenas na posição de quem observa, mas de quem experimenta.
Mas não se engane, este não é apenas um livro de erotismo explícito, mas sim de uma provocação profunda à própria linguagem. Cichetto não poupa esforços para criar um espaço onde poesia e crônica, dois gêneros geralmente mantidos em territórios separados, coexistem e se nutrem mutuamente. É como se ele nos dissesse que o mundo não se limita a uma classificação estática: a poesia pode ser crônica, a crônica pode ser poesia, e o erotismo pode estar em todos os momentos do ato de escrever. Cada uma das peças que compõem esta obra é um fragmento, uma parte de um quebra-cabeça maior que, na soma de seus pedaços, nos permite enxergar um pouco da alma de seu criador.
Nessa obra, Cichetto desafia e confronta convenções, ironizando até mesmo o papel dos críticos literários. “Chamem do que quiserem”, ele escreve, ressaltando a autonomia do autor sobre sua criação, como quem pede ao leitor que esqueça as categorizações rígidas e simplesmente aceite o convite para ler. Em um mercado onde a literatura é muitas vezes condicionada a rótulos e críticas, o autor abre mão desse processo e se dedica a escrever conforme sua visão pessoal e sua própria intuição. Essa rejeição dos padrões mercadológicos vem também na forma de autodefinição: ele não se coloca como poeta ou cronista, mas como “Artesão de Palavras”. E com essa expressão, abre um universo de significados: o escritor é aquele que manipula, molda, remexe, como quem trabalha a argila. Ele se torna um trabalhador da palavra, alguém que lida com a língua de maneira a compor significados novos a partir do que muitos considerariam banal ou esquecível.
A visão única de Cichetto ganha ainda mais relevância quando observamos as referências à pandemia de 2020, que marcam os textos reunidos sob o título de “Coronarianas”. Esse conjunto de crônicas, que em sua maioria são intensamente pessoais e refletem a angústia, o tédio e a desesperança daqueles dias, documenta o que para muitos foi um dos momentos mais sombrios da contemporaneidade. A pandemia é retratada não só como uma emergência sanitária, mas como uma crise humana e social, com implicações que transcendem o vírus e que escancaram as fraquezas e os medos de nossa época. A decisão de incluir tais textos, escritos durante o período de confinamento, acrescenta uma camada de densidade e melancolia que se soma ao caráter provocador e lúdico de Pornomatopéias. O autor nos oferece um testemunho íntimo de um tempo em que, como ele mesmo descreve, o desejo por sobrevivência e humanidade parecia sucumbir à paranoia e ao uso político da crise.
O livro nos desafia, a cada página, a expandir a definição do que é literatura. Em uma época em que as palavras são massivamente usadas, e muitas vezes desgastadas, Cichetto nos convoca a revalorizá-las. Ele transforma as palavras em peças de um jogo, em brinquedos que criam imagens e evocações, que trazem os sons e murmúrios do prazer e do desespero. E, ao fazer isso, ele coloca o leitor em uma posição ativa, de quem observa e participa, de quem lê e escuta. É um convite para que, juntos, autor e leitor, construam uma experiência literária que vai além do comum.
No design do livro, Cichetto revela ainda seu apreço pela estética, adotando uma forma que é, ao mesmo tempo, inusitada e simétrica: o formato quadrado de 20 x 20 cm, com exatas 220 páginas. Este é um indicativo claro do jogo com números e formas, da matemática que também permeia a poesia. Assim, Pornomatopéias se torna um livro que não só chama atenção pelo conteúdo, mas também pelo design que transforma cada detalhe em um reflexo do todo, cada peça em um fragmento essencial da experiência.
Assim, Pornomatopéias é mais que um livro; é um convite. Um convite a experimentar a literatura como som, como fragmento, como experiência sensorial e emocional. Ele nos mostra que a escrita não é apenas um conjunto de palavras, mas um universo de possibilidades onde cada frase é uma escolha e cada palavra pode ser um jogo. Barata Cichetto nos convida a jogar, e ao aceitar este convite, descobrimos que tanto ele quanto nós, leitores, saímos ganhando. Que, então, comecem os jogos.
Santo Xavier é escritor. Surdo e também mudo, irmão gêmeo de pais diferentes de Olavo Villa Couto.
Informação adicional
Peso | 0,500 kg |
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Dimensões | 20 × 20 × 1,5 cm |