Barata Cichetto – Pessoais

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Descrição

Diálogos Poéticos Com Fernando Pessoa
Autor: Barata Cichetto
Gêneros: Poesia/Prosa
Ano: 2024
Páginas: 64
Tamanho: 11 X 18 X 0,5 cm

O Outro Lado da Mentira: Minha Jornada com Pessoa

Foi apenas na virada do século 20 para o 21 que Fernando Pessoa se impôs à minha vida de uma forma inesperada e avassaladora. Antes disso, o conhecia superficialmente, como a maioria dos brasileiros que ouviu falar daquele poeta lusitano que criava heterônimos como quem muda de máscaras em um teatro. Mas foi somente ao começar a ler sua obra, mergulhando em sua complexa teia de personalidades e versos, que entendi a profundidade do impacto que ele teria sobre mim.

O que primeiro me surpreendeu foi a variedade em sua poesia. Fernando Pessoa não era apenas um poeta; ele era múltiplos. Um fingidor, sim, como ele mesmo confessou no célebre poema “Autopsicografia”, mas também um mestre em construir e desconstruir identidades. Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro foram mais que criações; foram extensões de seu próprio ser, fragmentos de uma mente que não se contentava em viver apenas uma vida. E isso, para mim, foi revolucionário.

Ao começar a me aprofundar em sua obra, descobri um Fernando Pessoa que ia muito além dos versos melancólicos e filosóficos que conhecia. Sua poesia tinha uma riqueza emocional e intelectual que transcendia o simples lirismo. Era como se cada poema fosse uma espécie de enigma, uma porta para um universo interior cheio de contradições e verdades ocultas. Foi então que me vi, irreversivelmente, atraído pela cultura lusófona, algo que até então valorizava mais por autores clássicos como Camões, do que por qualquer outro. Mas, com perdão de Camões, passei a afirmar sem hesitar: Fernando Pessoa é o maior poeta da língua portuguesa de todos os tempos.

É claro, não faço isso para diminuir a importância de Camões. Ele é, sem dúvidas, um gigante da literatura. Suas epopeias, especialmente Os Lusíadas, colocaram a língua portuguesa em um patamar de excelência literária, carregando com ela a glória de toda uma nação. No entanto, Pessoa faz algo que vai além da tradição épica. Sua poesia não glorifica heróis ou feitos grandiosos; ela penetra nas profundezas da alma humana, explorando medos, dúvidas e identidades fragmentadas. Pessoa nos convida a olhar para dentro de nós mesmos, a questionar nossa existência e a encarar nossas próprias contradições. E isso, para mim, é um feito ainda mais extraordinário.
Essa paixão fulminante por Fernando Pessoa foi selada de vez em 2011, quando visitei a exposição sobre ele no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Aquele momento foi como um encontro pessoal. Caminhando pelas salas do museu, fui sendo imerso em sua vida e obra de uma forma quase íntima. Havia poemas projetados nas paredes, objetos pessoais que evocavam sua presença, e, em meio a tudo aquilo, uma instalação onde era possível posar ao lado de uma figura holográfica de Pessoa. Claro, tirei uma foto. Hoje, essa imagem ilustra a capa do livro para o qual estou escrevendo esta apresentação. A partir daí, minha relação com Fernando Pessoa deixou de ser apenas literária; tornou-se quase pessoal.

Esse encontro “presencial” com o poeta de Lisboa me fez refletir mais profundamente sobre sua complexa relação com o mundo e consigo mesmo. Pessoa não era apenas o poeta introspectivo que escrevia sobre angústias metafísicas e existenciais; ele também flertava com o ocultismo e o esoterismo, especialmente através de sua intrigante relação com Aleister Crowley. Em 1930, Crowley, o mago inglês famoso por seus rituais e sua filosofia libertina, visitou Lisboa e se encontrou com Pessoa. O encontro entre os dois foi cercado de mistério e especulações, culminando em um evento bizarro: o suposto desaparecimento de Crowley nas falésias de Cascais, encenado como um suicídio. Pessoa participou ativamente dessa encenação, ajudando Crowley a forjar sua própria “morte” apenas para reaparecer mais tarde. Esse episódio curioso revela o lado enigmático de Pessoa, sua fascinação por forças ocultas e seu prazer em confundir a linha entre realidade e ficção.

No entanto, para além dessas aventuras excêntricas, o que realmente ressoa em sua obra é a universalidade de sua poesia. Pessoa fala de sentimentos e dilemas que transcendem o tempo e o espaço. Em sua famosa ode ao niilismo, ele escreve: “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena”, uma frase que carrega a sabedoria de quem enxerga o mundo de uma perspectiva cósmica, mas também a resignação de quem sabe que, no fundo, estamos todos à mercê de um destino incontrolável.

Foi nesse contexto que comecei a redescobrir outros gigantes da literatura portuguesa, como Luís de Camões e Antero de Quental, e também de outros cantos do mundo lusófono, como José Saramago e e reencontrar a poesia satírica e mordaz de Bocage. A vastidão da cultura lusófona se abriu para mim de forma avassaladora, e, ao invés de enxergar uma competição entre esses autores, passei a vê-los como diferentes vozes de uma mesma sinfonia. Cada um, à sua maneira, contribui para a riqueza dessa língua que tanto amo.
Percebo agora, que Fernando Pessoa é, em muitos aspectos, um espelho para mim. Sua busca incessante por identidade, seu questionamento constante da realidade e sua habilidade de criar novos mundos através da palavra me inspiram não só como escritor, mas como pessoa — em todos os sentidos da palavra. Pessoa nos ensina que ser humano é ser plural, é estar em constante transformação, é aceitar que dentro de nós existem múltiplas vozes, todas elas tentando se fazer ouvir. E é essa pluralidade, essa multiplicidade de “eus”, que torna sua obra tão atemporal e tão impactante.

Hoje, ao reler seus poemas e ensaios, sinto como se estivesse reencontrando um velho amigo. Alguém que, de certa forma, sempre esteve ali, esperando que eu finalmente estivesse pronto para compreendê-lo em sua totalidade. E, embora ainda haja muito em Pessoa que me escapa, sei que sua poesia continuará a me acompanhar, como uma sombra ou uma luz, em cada nova fase da minha vida.

Fernando Pessoa, o maior poeta da língua portuguesa de todos os tempos, não é apenas um mestre da palavra. Ele é um mestre da vida. Uma vida vivida em mil fragmentos, todos eles brilhando com a intensidade de quem, mesmo ao fingir, só faz revelar a verdade mais profunda de nossa existência.
Pessoa, permanece inigualável. Seu legado vai além da poesia. Ele criou uma verdadeira mitologia literária ao dividir-se em heterônimos, como se cada faceta de sua personalidade necessitasse de uma voz distinta para expressar suas angústias e suas visões de mundo. Alberto Caeiro, o poeta da natureza e da simplicidade; Álvaro de Campos, o futurista inquieto e desesperançado; Ricardo Reis, o clássico, nostálgico e estoico — cada um deles não era apenas uma criação de Pessoa, mas uma forma de existência em si. Ler suas obras é como ler várias vidas, várias almas que coexistem em um mesmo corpo.

Foi a partir dessas leituras, sobretudo da obra de Fernando Pessoa, que ele começou a me influenciar profundamente. O impacto foi tanto que escrevi algumas poesias que o citam, direta ou indiretamente, e que compõem o conteúdo deste pequeno livro. Essas poesias são uma homenagem à sua complexidade, à multiplicidade de suas identidades e à sua profunda reflexão sobre a condição humana.

Informação adicional

Peso 0,100 kg
Dimensões 18 × 11 × 1 cm
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